Dizia o pato para a pata adormecida Um dia hei-de levar-te até à mata E debicar-te essa asa ferida Dizia apaixonado o pato psicopata E a pata fugia com medo para longe Mas continuava a olhá-lo à socapa Ele insistia com paciência de monge Ela seguia-lhe o rasto por um mapa E o pato amola a faca que a há-de matar Mas pato que afia a faca Perto da sua pata Não a quer matar Não a consegue espetar Grasnava o pato ao longe De bico aberto em cascata Vida de homicida Do pato psicopata Ele que nunca sentira remorsos Nem no mais macabro dos cenários Esteve preso muitos anos na gaiola Por matar meia dúzia de canários Já nem grasnava isto com aquilo Nem flutuava nos lagos da razão E no tronco onde enforcara um esquilo Debicou lentamente um coração Pato desorientado, pára de hesitar Pato que ainda hesitas Junto a penas bonitas Tira-lhe o grasnar Não a consegue espetar Grasnava de faca em punho E asa imóvel frente à pata Sem tino de assassino O pato psicopata E a pata rouba-lhe a faca E grasna que o amor mata