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Conheça a história da guitarrada paraense

Confira um material especial sobre a guitarrada, encantador e particular gênero musical do Pará!

Geralmente, quem começa a tocar guitarra é influenciado por sonoridades estrangeiras, como o rock e o heavy metal. No entanto, você sabia que o Brasil é berço de gêneros riquíssimos, que apresentam uma linguagem única no instrumento? Pois é, um grande exemplo disso é a guitarrada paraense!

Mestre Vieira tocando guitarra olhando para o instrumento
Em ação, Mestre Vieira, criador da guitarrada (Foto/Divulgação)

Nesse contexto, hoje vamos abordar a história desse incrível ritmo do Pará. Você vai conhecer os principais nomes e as músicas icônicas do gênero, além de conferir dicas para sair tocando a guitarrada por aí.

Então, vamos para essa aventura musical?

O que é guitarrada?

Antes de tudo, vamos conceituar o gênero. A guitarrada nasceu no estado do Pará na década de 1970, sendo criada pelo músico Mestre Vieira. Principalmente instrumental, a sonoridade mescla elementos de choro, cúmbia, mambo, carimbó, bolero e Jovem Guarda, entre outros.

Nesse sentido, o estilo musical tem a guitarra elétrica como protagonista, fazendo não só a parte rítmica, mas também a melódica. Ou seja, os solos de guitarra são uma das marcas registradas da guitarrada, que também é chamada de lambada instrumental

Acima de tudo, o gênero conta com temas alegres e dançantes, além de ritmos bem marcados e intervenções melódicas cheias de swing

Como surgiu a guitarrada?

Os primeiros capítulos da história da guitarrada foram escritos por músicos pontuais, repletos de talento e decisivos para que o gênero paraense ganhasse relevância nacional.

Sem dúvida, Joaquim de Lima Vieira, o Mestre Vieira, foi não apenas o pioneiro, como também o criador da guitarrada paraense. Ele foi um músico versátil e virtuoso, que tocava banjo, bandolim, cavaquinho e violão, entre outros instrumentos. No entanto, passou a tocar guitarra elétrica só na década de 1970.

Então, em 1978, veio a revolução. Mestre Vieira lançou o disco Lambadas das Quebradas. Por meio de suas 12 faixas, o álbum inovou ao trazer a guitarra à frente dos arranjos que fundiam ritmos amazônicos e caribenhos. 

Em sua longa carreira, Mestre Vieira lançou vários outros trabalhos de qualidade, chegando a formar uma parceria com dois nomes de peso da guitarrada: Aldo Sena e Mestre Curica. Vieira faleceu em 2018, aos 83 anos de idade. 

A importância de Aldo Sena para a guitarrada

Quando ouviu o histórico disco do Mestre Vieira, o músico Aldo Sena se apaixonou pela sonoridade. Na época, ele fazia parte do grupo Os Populares de Igarapé-Miri, no qual tinha importante papel como solista. 

A banda já tocava lambadas, mas, na primeira metade da década de 1980, o músico apostou na carreira solo e lançou discos focados na guitarrada paraense. Os trabalhos tiveram ótima repercussão e renderam turnês nacionais ao instrumentista. 

Assim, Aldo Sena teve papel fundamental na consolidação da guitarrada. Com seus álbuns, elevou o nível do gênero, trazendo técnicas e arranjos elaborados a suas composições. Hoje, segue na ativa e acumula 40 anos de carreira, com mais de 20 discos lançados. 

Mestre Curica e seu banjo

Co-fundador do conjunto Uirapuru, que tocava carimbó, Mestre Curica é outro nome essencial da guitarrada paraense. Porém, ao contrário de Mestre Vieira e Aldo Sena, seu instrumento principal não era a guitarra, mas sim o banjo.

Além dissp, sua carreira ficou marcada por também escrever letras para as suas músicas de guitarrada, gênero cujo destaque eram os temas instrumentais. 

Em 2003, ao lado de Vieira e Sena, Curica participou do grupo Mestres da Guitarrada. O conjunto integrava o selo da Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa) e lançou diversas faixas de sucesso.

Dessa forma, o projeto esteve na ativa até 2007 e levou a guitarrada para todo o Brasil, reafirmando a importância do ritmo do Pará. No ano de 2011, a guitarrada foi considerada Patrimônio Cultural Paraense.

Mestre Curica segue atuante, realizando shows e levando a guitarrada para a nova geração. 

Ximbinha e a renovação da guitarrada paraense

O guitarrista Ximbinha (anteriormente conhecido como Chimbinha) é bastante associado à guitarrada – e não é por acaso. O músico e produtor paraense foi extremamente influenciado por Mestre Vieira, Aldo Sena e Curica em seu modo de tocar.

Para completar, antes de ganhar destaque nacional com a banda Calypso, ele lançou o álbum Guitarras que Cantam. O disco instrumental independente possui 12 faixas e acabou por renovar a guitarrada na capital Belém. 

Além dos músicos já citados, outros nomes de importância para a guitarrada são Oséas, Solano, Mário Gonçalves, João Gonçalves, Magalhães, Marinho, André Amazonas, Didi e Barata, entre outros. 

Atualmente, muitos guitarristas mais jovens celebram o gênero do Pará em seus trabalhos, incluindo Lorran Valle, Rosivaldo Cordeiro, Lucas Estrela e Félix Robatto. 

As melhores guitarradas

Em seguida, listamos algumas músicas incríveis da guitarrada paraense para você conhecer, curtir e se inspirar. Quem sabe, você até se empolga e tira alguns desses temas na sua guitarra, não é? Confira abaixo!

  • Lambada Das Quebradas – Mestre Vieira
  • Solo de Craque — Aldo Sena
  • Dançando Na Vila Sorriso – Mestre Curica
  • O Som da Amazônia – Solano 
  • Brincando com as Cordas – André Amazonas
  • Dançando Calipso – Chimbinha
  • Cheia de Moral – Mestre Vieira
  • De Belém a Fortaleza – Barata 
  • Lambada Complicada – Aldo Sena
  • Farol – Lucas Estrela 
  • Noite de Toró – Félix Robatto

Dicas para tocar guitarrada paraense

Se você curtiu as músicas de guitarrada e quer arriscar algumas notas nesse gênero do Pará, preparamos algumas dicas que vão te ajudar nessa jornada. Se liga só:

1. Regule seu timbre de forma adequada

Primeiramente, é preciso deixar claro que a guitarrada tem uma sonoridade de guitarra bastante particular. Nesse sentido, o som é limpo e brilhante, com um estalado pronunciado.

Assim, dê preferência para guitarras com captadores single-coil, especialmente a Stratocaster, que é amplamente usada pelos mestres da guitarrada.

Ademais, amplificadores com um som limpo cristalino caem muito bem, como Fender e Roland.

Por fim, efeitos de reverb e delay dão um toque especial ao timbre. 

2. Tenha atenção à parte rítmica

O ritmo dançante e bem marcado é uma das principais características da guitarrada paraense. Assim, a sua mão direita (no caso dos destros) deve estar em dia. As batidas, que muitas vezes são frenéticas, não podem sair do andamento, ok?

Ao mesmo tempo, é preciso ter swing – nada de tocar quadradinho como um robô. Afinal, estamos falando de um estilo brasileiro, que naturalmente tem um molejo todo único. Com treino, você vai conseguir chegar lá, temos certeza!

3. Seja preciso nos solos

Por fim, os solos são bem destacados, quase sempre com um aspecto percussivo. Novamente, tenha precisão nos ataques de palheta, abafando as cordas com a mão da escala sempre que necessário.

Como não há pedal de distorção para mascarar o som, a pegada firme é extremamente importante nos solos de guitarrada. Dessa forma, é necessário tocar as notas de forma certeira e com atitude para que os solos tenham o apelo característico do gênero.

Compartilhe este material sobre guitarrada paraense

Aqui, chegamos à parte final do artigo de hoje. Muito legal a história da guitarrada paraense, não é mesmo? Definitivamente, é um gênero musical brasileiro bastante especial e repleto de características únicas.

Portanto, para prestigiar ainda mais a guitarrada, deixamos aqui um pedido para você: envie o link deste artigo aos seus contatos, sejam eles músicos ou não. Dessa forma, todos poderão conhecer e apreciar a guitarrada. Afinal, o que é bom precisa ser compartilhado!

Foto de Fernando Paul

Fernando Paul

Jornalista musical, com mais de 10 anos de experiência na área. Toca guitarra, violão e baixo, além de estudar mixagem de áudio. Já acompanhou cantores, tocou em casamentos e integrou bandas de rock e grupos de louvor. Escreve para o Cifra Club desde novembro de 2021.

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