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60 anos de Renato Russo: um brinde ao Trovador Solitário

Nos 60 anos de Renato Russo, vamos relembrar a fase em que ele se apresentava como OTrovador Solitário.

Se estivesse entre nós, nesta sexta-feira (27), Renato Russo completaria 60 anos. Esse carioca, ariano e beatlemaníaco foi o líder de uma das bandas mais influentes do pop rock nacional, a Legião Urbana. Mas o que muita gente não lembra – ou talvez nem conheça – é o primeiro momento da fase solo de Renato, que mostrava um lado mais intimista e uma produção totalmente caseira e rústica de sua música. À época, ele atendia pela alcunha O Trovador Solitário.

Renato Russo e seu violão de 12 cordas, o Trovador Solitário

O Trovador Solitário, em 1982, antes de liderar a Legião Urbana (Foto/Internet)

Para celebrarmos a memória desse artista tão importante, vou te contar um pouco da parte meio esquecida de sua história. Ah! Se quiser pegar seu violão para tocar algumas canções, fique completamente à vontade 😉

Vamos nessa?

A origem do Trovador Solitário

No curto período que datava entre o fim do Aborto Elétrico, banda seminal do punk rock brasileiro, e a formação da Legião Urbana (mais precisamente no ano de 1982), Renato Russo resolveu dar a cara a tapa e se despir do apoio de seus companheiros de banda para se apresentar sozinho, em pequenos palcos de Brasília.

Enquanto os irmãos e Flávio Lemos convidaram o guitarrista Loro Jones [ex-Blitx 64] para formar o Capital Inicial, Renato Russo lançava o projeto O Trovador Solitário. O nome já entrega, mas o rolê vai além: era como espiar dentro do quarto de Renato e vê-lo ensaiando as suas composições. Era o seu alter-ego de artista e gênio solitário sendo totalmente revelado.

Renato Russo, Fê Lemos e Flávio Lemos, nos tempos do Aborto Elétrico

Fim do Aborto Elétrico deu à luz ao Trovador Solitário (Foto/Internet)

Em uma versão totalmente diferente da performance enérgica do Aborto, o novo trabalho consistiria apenas em tornar público o modo como Renato tocava suas músicas em casa: acompanhado somente de seu próprio violão, inspirado em ídolos punk- experimentais como Paul Weller e John Cooper Clarke. Nesta fase, no melhor estilo Bob Dylan e NickDrake, todas as músicas foram tocadas apenas em um raro e velho violão de doze cordas.

A cobrança dos fãs e dos amigos de Brasília – que já o consideravam como um porta-voz genial daquela turma que mal tinha entrado na faculdade – fez com que ele se apresentasse ao vivo com o projeto solo, dando vida às músicas que ele já tinha no papel. “Os amigos lhe pediam que gravasse as canções, então ele entrou no quarto com um gravador e registrou as demos de nove músicas. Depois, começou a tocá-las em alguns lugares pequenos de Brasília”, revelou o produtor Marcelo Fróes, em uma entrevista para a UOL. Nascia aí O Trovador Solitário, projeto de vida curta, mas de importância imensurável na carreira de Renato Russo.

A herança musical deixada pelo Trovador Solitário

Dada essa importância, foi lançado, em 2008, uma edição especial do álbum O Trovador Solitário, com gravações raras de Renato Russo em sua versão acústica. As músicas escancaram o tom caseiro das gravações originais, o que faz com que o fã se sinta ainda mais próximo do trabalho intimista do cantor.

A importância do Trovador Solitário para a então vindoura Legião Urbana é incontestável: foi do violão de doze cordas de Renato que nasceu obras fundamentais para o repertório legionário. A seguir, te conto um pouquinho sobre algumas delas.

Eduardo e Mônica

As primeiras apresentações da canção Eduardo e Mônica revelava notas de punk rock – inevitáveis ecos do Aborto Elétrico – e mostra um outro lado do sucesso radiofônico que conhecemos hoje. Detalhe: a versão da letra Trovador lembra muito a do álbum Dois (1986) até a hora em que, em vez de construírem uma casa, o improvável casal aluga um apartamento. Mais para o final, versos extras explicam o que aconteceu com os pombinhos antes de voltarem para Brasília. Russo encerra a gravação da música dizendo, com voz de locutor, “Rádio Brasília” – nome com o qual a fita cassete ficou conhecida entre os fãs.

Faroeste Caboclo

O Trovador Solitário também apresentou a incrível saga de João de Santo Cristo, isto é, foi naquela fase que apareceu a icônica Faroeste Caboclo. É interpretada praticamente da mesma maneira como seria gravada cinco anos depois no álbum Que País É Este (1987).

Eu Sei

Outra pérola legionária que surgiu no primeiro voo solo de Renato foi Eu Sei. Naqueles tempos, no entanto, a faixa se chama 18 e 21. A gravação que conhecemos no álbum Que País É Este (1987) é bem mais elaborada, inclusive com um refrão a mais, do que a versão embrionária parida pelo Trovador Solitário.

Dado Viciado

A música Dado Viciado seria lançada em álbum apenas 15 anos depois, no primeiro disco póstumo da Legião, Uma Outra Estação (1997), lançado no ano seguinte à morte de Renato Russo. A interpretação do Trovador é bem mais visceral, mas menos “urgente” do que a versão oficial que conhecemos.

As músicas que não foram reformuladas para o repertório da Legião foram usadas nos álbuns solos de Renato, já nos anos 90. Uma prova concreta de que o próprio cantor reconhecia no seu projeto de juventude um potencial e uma influência que seriam levadas com ele por toda a sua vida.

Ainda em 1982,  já cansado de tocar sozinho, Renato Russo foi em busca de novos parceiros para um novo trabalho em grupo. Começou, no mesmo ano, a fantástica história da Legião Urbana. Essa conversa, no entanto, fica para uma próxima oportunidade 😉

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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