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Velha guarda do funk perde a irreverência de dois ícones

Mr. Catra, um verdadeiro patrão do funk (Foto/Divulgação)

As 72 horas que separaram o dia 6 de setembro do último domingo (9) foram ligadas por duas perdas irreparáveis para a velha guarda do funk. Na quinta-feira que antecedeu o feriado de Independência, morreu Mc Naldinho (41), vítima de problemas nos rins. Já no encerramento do fim de semana prolongado, um câncer no estômago ceifou a vida de Mr. Catra (49). Cada um em seu tempo e à sua maneira, ambos escreveram história no funk brasileiro.

Integrante do grupo Furacão 2000, Naldinho encabeçou uma geração que não experimentou o glamour e o “sinal verde” que os funkeiros de hoje desfrutam. Durante seu período de maior sucesso, o intérprete dos hits “Um Tapinha Não Dói” e “Dança da Motinha” experimentou um dos momentos mais inóspitos da música brasileira popular. Naqueles tempos, um feat. entre funk e sertanejo era apenas um devaneio da mente de algum produtor qualquer.

Naldinho conheceu de perto o período mais marginalizado do funk (Foto/Divulgação)

Contemporâneo de Naldinho, Mr. Catra também conheceu de perto o período menos gracioso do funk. Antes de conhecer o sucesso com o hit “Adultério”, o rei do funk proibidão amargou o lado mais underground do cenário. Entre a época em que cantava sobre corrupção policial e o período de lugar cativo nas playlists e baladas da galera asfalto, Catra precisou ter jogo de cintura, paciência e inteligência para sobreviver às armadilhas do jogo da indústria fonográfica.

Sem papas na língua, bastante irreverente e com posicionamento artístico versátil, Catra transitou por várias vertentes da música nacional. Além de flertes com o samba e duetos aleatórios com astros do sertanejo, o artista vivenciou dois importantes mergulhos roqueiros: o começo obscuro, como guitarrista da banda O Beco; e projeto Mr. Catra & Os Templários, cujo disco lançado caiu nas graças até dos roqueiros mais tradicionalistas.

Bem relacionado, Catra transitou por vários territórios da música brasileira (Foto/Divulgação)

Mr. Catra e Mc Naldinho não foram, nem de longe, os donos das mais expressivas extensões vocais ou, menos ainda, os melhores intérpretes da música funk. Porém, ambos fizeram um trabalho que transbordou irreverência, carisma e ruptura de paradigmas. Muita vezes lutando contra tudo e contra todos, Catra e Naldinho jamais se venderam para a patrulha do politicamente correto e nunca deixaram de fazer música seguindo as próprias convicções.

Carreira de Naldinho foi 100% funkeira (Foto/Divulgação)

Com a morte desses dois ícones da velha guarda do funk, a música brasileira popular ficou um pouco menos alegre. O show não pode parar, de fato. Porém, todavia contudo, a falta de artistas desafiadores e destemidos deixa o palco um pouco menos iluminado.

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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