O meu pai era peão Foi campeão de rodeio Ele não usava espora Também não usava o reio Aonde se apresentava O recinto era cheio O povo saudava em pé E hoje não pode sequer Nem com o peso do arreio Ele não ganhou dinheiro Mas foi um homem de fama Quando estamos reunidos Lá pra um cantinho me chama Pra contar suas passagens Seu palavreado se inflama Noto que no seu olhar Seus olhos chegam brilhar Sua lágrima derrama Sempre com dificuldade No seu pequeno espaço Fazendo gestos com as mãos Como quem golpeia um laço Levantando da cadeira Querendo mudar os passos Não tem as forças que tinha O pouco que ele caminha Apoia-se em meus braços A cada gota de pranto Que ali dos seus olhos cai É uma saudosa lembrança Do tempo que longe vai Ele quer contar os causos Mas sua voz não sai Quanta coisa armazenada Ficou sem vida enterrada No coração do meu pai