O repórter invade a minha vida Explora a minha miséria Comove a sua plateia Com lágrimas De meu coração Seco Igual ao sertão Meus pés descalços Nesse solo rachado Meus pés rachados nesse solo Descalço Os meus pés Além de câmeras pra gravações Roteiros de documentários Me surpreenderia mais a sua equipe invadindo o meu sertão Com galões de água potável Sacos de mantimentos E rações pro gado Deus sol, Deus chuva, revezem mais Pois ainda esperamos os arranha-céus Uns primos contemporâneos da torre de babel Que cutucam o céu até escorrer a chuva Que vem lavando o cenário E me puxa Desse meu lado imaginário Onde os urubus não formam um arco negro no céu Lá não Deus sol, Deus chuva, revezem mais Que o acaso não faça caso E nossas caminhadas se cruzem No descompasso de cada passo Desse ritmo de vida escasso Descalço pisando nas estrelas cadentes As vezes faz bem se apaixonar de repente Ir ver o mar pessoalmente No céu dando um beijo Lindos, íntimos amigos Se o dia estiver bonito eu até assopro um assovio Zé da luz Cordel e embolada Pois o meu ritmo consagra Cem anos de baião de Luiz Gonzaga