Um fadista já cansado Quando o passado lembrou Abraçou uma guitarra Não pôde cantar, chorou Entrou, sentou-se e bebeu Um copo de vinho tinto Enquanto que no recinto Uma guitarra gemeu Muitas cantigas sei eu Tudo se ouviu menos fado E o cantador desolado Começou por me dizer Só tenho pena de ser Um fadista já cansado Criei nome, dei nas vistas Conquistei fama e ovações Mas não a cantar canções De envergonhar os fadistas Cantei fado nas conquistas Da boémia, que passou Sei quem fui, sei que não sou Um cantador presumido Disse-me ele entristecido Quando o passado lembrou E prosseguiu, quando entrei Entrei com mil ansiedades E se vim matar saudades Com mais saudades fiquei Envelheci, mas é lei Da fadistagem bizarra Ter fé, ter alma, ter garra P'ra cantar até à morte E falando desta sorte Abraçou uma guitarra E cingiu com mão amiga Ao lado esquerdo do peito Aquele instrumento eleito P'la fadistagem antiga Lembrou-se duma cantiga Que outrora o celebrizou Mas a emoção embargou Toda a sua voz amena E o pobre cheio de pena Não pôde cantar, chorou