Eu me chamo Horácio Pena Não sou direito, nem torto Mas depois que eu pego o rumo Só largo depois de morto Descarto o que se desfaz Não tenho mulher e rancho Não gosto de olhar pra trás Não tenho mulher e rancho Não gosto de olhar pra trás Confio mais no cavalo Do que no próprio vivente Porque bicho não esconde Quando não gosta da gente Não enfeito meu discurso Falo o que penso sem dó "Inda" que isso me custe Andar quase sempre só Eu me chamo Horácio Pena Sou mais um que se perdeu Fiz essa pátria ventena Mas ela já me esqueceu Eu sou brasa de espinilho Dormindo um sono de seda Que qualquer vento desperta E se transforma em labareda Tenho a raça entreveirada De índio com espanhol O couro trago curtido De geada grande e de sol A alma é lonca sovada Que acostumei a penar Cortando as velhas lonjuras Embaixo do campomar Eu me chamo Horácio Pena E não sou mais que ninguém Mas que ninguém acredite Que é mais do que eu, também Eu sou brasa de espinilho Dormindo um sono de seda Que qualquer vento desperta E se transforma em labareda