Meu Brasil grande, fogão De pátria e de nativismo No bárbaro catecismo Do meu Rio Grande pagão Hoje a indiada deste chão Tem o seu dia mais santo E no amargo que levanto Numa data como essa Só posso pagar promessa Com a pobreza do meu canto Mateando nesse fogão pampeano Hoje, no dia do farrapo, 20 de setembro Num berro xucro de altivez ferida O potro alçado sacudiu as crina Tremeram bravos, soluçaram China E a própria morte deu lugar à vida Com violência irreprimida retumbando pelas grotas Foram se adensando as notas num crescendo barbaresco Era o hino gauchesco por mil gargantas entoado Era a alma de um estado vibrando contra tiranos Eram centauros pampeanos paleteando anseios grandes Estremeceram os Andes, desembestaram oceanos Corcovearam altiplanos ao plagor de ideias novas Mortos saíram das covas Abriram-se mausoléus Anjos bombearam dos céus Na terra em todos os cantos Alvorotaram-se os santos interrogando o Senhor De onde Pai esse clamor que chega em nosso infinito? Eu já esperava esse grito Que tardava o céu azul É do Rio Grande do Sul Parapeito do Brasil Xucro e por demais viril Para aguentar tirania É a sagrada rebeldia do guasca que eu modelei Calou-se o supremo rei Pra encerrar com majestade Eu já lhes dei liberdade Eles que façam a lei Mas se a pátria era só uma Predestinada a ser grande Porque os filhos do Rio Grande Tudo, tudo era negado Mal recebido e famado pela corte europeizada Que dormia descansada indiferente à distância A custa da vigilância que o reiograndense montava Enquanto o norte orientava seu futuro, sua glória Iniciando trajetória nos bancos de academia No lombo das cesmarias o guasca fazia história Mas um dia, há sempre um dia A xucreza provinciana Ergueu a voz soberana que inflamou-se e veia a furo Correu sangue, ruro e puro destilado em campo aberto De onde ia brotar por certo A geração do futuro Bandeira de 35, divino pendão de guerra Que trazes gritos de terras Entre as dobras andarilhas Pano de altar das coxilhas Desfraldados por condores Prece rezada em trêz cores Em sobrehumanos rituais O verde e os campos gerais Do Rio Grande despenteado Um matambre amarelado, uma alvorada de outubro E o campo vermelho ruro, um Sol de tarde sangrado Troféu mil vezes sagrado, pátria encarnada num pano Velho lábaro pampeano, muito mais do que fazenda Fostes a primeira legenda do Brasil republicano Pedaço de chão pampeano que nem teve donatário Não servirás de sudário às tradições arruevas Nem as glórias andarengas trançadas com fã Hoje, ontem e amanhã, gaúcha mas brasileira Jamais serás a bandeira de tiranos ou carrascos Teu hino é o troféu de casco É a velha gesta campeira Que vem deixando uma esteira de nativismo e de fé Desde que o Índio Sepé, monarca das reduções Ficou santo ante as regiões de Capela e Portugal E a república imortal de assistência ambulatória Vai cortando trajetória e acampanhado aqui e ali Primeiro é Piratini, velho reduto açoreano Palanque republicano enraizado no chão O legendário fogão aceso desde o principio O mais xucro município que falquejaram no mapa E a Caçapava farrapa gineteando as serranias Ninho das águias bravias lá quase junto do céu Tento do mesmo suvéu, ilhapa do mesmo laço Tronqueira de cerne e aço, com cicatrizes de sonho Berço de tigres heróis desde o primeiro piquete E por fim, e por fim o Alegrete. Rebenque da mesma clã Pagé do mesmo tupã das lendas continentinas Que nasceu molhando as crinas no velho Ibirapuitã E vão desfilando os tauras em comparável cruzada Cujo anseio e cuja espada não tinham outro sentido Do que um Brasil redimido pela coesão nacional Tratamento humano igual a província morta viva Essa era a intenção altiva dos guascas republicanos Que escreveram por dez anos sua ideia federativa Nariz da terra nativa nas alvoradas serenas Tirintimtim de chilenas que se perdem nas quebradas Bandeiras xucras hasteadas num simbolismo fiel O pampa é um grande quartel do Jaguarão a Pelotas Do mar as plagas remotas das missões do Uruguai Filho lutando com pai, irmão combatendo irmão Um trono contra um rincão que morre de pé e não cai Sangue heróico que se esvai na mais dantesca catombe Pra que amanhã ninguém zombe de um povo que está oprimido E compreendo o sentido e o supremo sacrifício De cada jovem patrício que morreu sem ter vivido Roto das lanças da Azenha, Arroio Grande, Mostardas Ponteando como vanguardas de potéis imortais Pelotas, Campos de Deltrais, Passos Negros De novo como afirmações de um povo que morre mas não recua É o estoicismo charrua que o lusitano bebeu É o guarani que desceu do Sete Povos em reuínas É o Minuano que nas crinas dos fletes tras as bandeiras São as figuras campeiras daqueles lanceiros negros Reis em tronos de pelegos de valentia espartana Que a causa republicana num arrepio de coragem Vinham trazer a mensagem da raça pampa africana E o vento tras os murmúrios das águas do Jaguarão De onde o primeiro clarão libertário veio à tona Escrita sobre a carona no mais sublime dialeto A proclamação de Neto ao mundo inteiro emociona É a província chimarrona que diz à pátria e ao mundo Seu nobre anseio profundo de amor e fraternidade Na velha espontaneidade da raça guerrida e forte Que vai preferir a morte a viver sem liberdade Seiva, clarim de ombridade na bovas americanas Semente republicana plantada sobre as flechilhas Que brotando das coxilhas onde a liberdade chove Fará com que se renove outro 20 de Setembro Lá por 15 de Novembro no ano de 89 Estandarte de centauro, belo, divino e galhardo Santa Vitória, Rio Pardo, Ilha Pampa, Candiota Na vitória e na derrota sempre um sinal de esperança Hasteado num pau de lança ou num mastro de um navio No pampa, no mar, no rio, legenda de legendário Talismã de legionários, de Azenha, de Piratini Hoje perduram em ti as façanhas de Tobias Pastoreando águas bravias altaneiro e sobrehumano E o velho barco minuano farrapo da poupa quilha Que só contra uma plotilha vai morrer mas não se entrega Porque em seu mastro carrega o pavilhão farroupilha E lá está junto a família prendendo fogo ao paiol Sublime gesto de escolpe que causa espanto e abalo Até as águas ao tragá-lo cantaram retir de glória Entronizando na história Tobias santo robalo Lá longe, no Camaquã surge o vulto romanesco O cenário gauchesco viera consagrar a vida Garibaldi chegou a vê-lo mateando junto ao fogão Na fraterna comunhão do chimarrão que nivela Que estranha e xucra novela escrita a fogo e audácia Quadas da velha dalmácia que o vento trazia ao sul Mar verde no campo azul num contraste extraordinário O terrível carbonário invejando o pendão farrapo Porque fez daquele trapo seu talismã de corsário Ei-lo centauro templário com bolhadeiras e lanças Um misturado nas danças do maior desembaraço Alí marcando compasso de uma polca paraguaia Grudado ao rabo de saia que fosse do seu desejo Chimarrita, caranguejo, lanceiro, quadrilha, anu O piricom, o tatu, usados na campanha A valsa e a meia canha, as polcas de relação Ei-lo junto ao redomão, cuja xucreza não teme Pois tem nas rédeas o leme que o conservarão no trilho Nem lhe falta tombadilho de lã, corda ou gaviona Pois tem baichero, carona, apero, sincha e lombilho E os clarins seguem tocando, rumbiando o destino certo E vão cortando deserto na direção de Laguna É a carreteada turuna que bandeando alagadiço Aos clarins das cidadis os quero-queros gritões Vai cantar nas solidões ao tranco lerdo dos bois A glória daqueles dois, Garibalde e Canabarro Escrevendo a sangue e barro a epopéia dos lanchões E a república Juliana surge na luz das manhãs São as províncias irmãs pregando as mesmas mensagens São os valentes de Lages e contraterraneos de Anita Não é guerra de vindita nem a revolta incensata Mas pátria que quer ser pátria não é só pátria bendita E ali está Bento Gonçalves, herói nascido de herói Fulgor de todos os sóis que iluminaram a raça A glória que sentou praça e na glória foi mais glória A história escrevendo história na terra que o viu nascer Exemplo de honra e dever na mais pura trajetória Pátria bentida essa nossa com filhos de tal grandeza Homens de cuja nobreza se orgulha um país inteiro E Bento Manoel Ribeiro, velha cepa bandeirante Temperamento inconstante que a história não compreendeu E Chico Pedro de Abreu o Moringue de ardis longos E de uma feita em porongos surgindo meio de esbarro Vai surpreender Canabarro vencendo a velha raposa É Manoel Marques de Souza, audaz, combativo e sério É Caxias o império da lei persolificada É Andrade Neves de espada que escreve a glória de tantos É Francisco Chagas Santos, é João da Silva Tavares São nomes que andam nos ares arrepiando culminâncias Trançando lidas de estâncias com legendas militares Quem poderá separá-los hoje imperiais e farrapos Se ambos andaram de trapos santificando cavalos Se ambos só foram vassalos de anseios, não de monarcas Se nunca tiveram marcas ou sinais de mossa ou brinco Feitores de igual afinco da história eterna e serena Um foi o sangue, o outro a pena do hino de 35 Bandeira de Ponche Verde na última ação de um libelo Lembras o verde-amarelo desfraldado por Caxias Frente a frente as rebeldias do teu pano tricolor Filho que não quer tutor, mas sim carinho de pai Filho altivo que não trai mas que exige compreensão Traços da mesma feição, folhas do mesmo caderno O amor filhalho materno no mesmo abraço reunidos Arrogantes mas vencidos pelo carinho paterno Bandeira de 35, divino pendão de guerra Que guardas gritos de terras Entre as dobras andarilhas Pano de altar das coxilhas Desfraldados por condores Prece rezada em três cores Em sobre humanos rituais O verde e os campos gerais Do Rio Grande despenteado Um matambre amarelado, uma alvorada de outubro E o campo vermelho ruro, um Sol de tarde sangrado Troféu mil vezes sagrado, pátria encarnada num pano Velho lábaro pampeano, santificado na história Hoje é relíquia de glória do Brasil republicano