Surungo de Respeito

João Luiz Corrêa

Composição de: Maurinho Monteiro
Eu sou do tempo que nos dias de surungo 
Dava um banho no matungo, na correnteza da sanga 
Na mesma hora tomava um banho campeiro 
Passava água de cheiro, pra noite encontrar a tchanga 
E nas melenas glostora com brilhantina 
Só pra agradar a china, que a uma semana não vejo 
Mascava funcho, cravo da índia e canela 
E adoçava o bafo pra ela, pra mode ganhar um beijo 

Já de tardinha dava de rédeas no pingo 
Pra no bolicho do gringo, buscar um frasco de canha 
E de noitinha fechando mais um palheiro 
Ouvia longe o entrevero, da bailanta na campanha 
Já escutava a gaita choramingando 
Como que me convidando, pra este surungo de rancho 
Minha alegria e o maior prazer do mundo 
Era entrar pelos fundos, só pra dançar de carancho 

Mas hoje em dia os bailes estão modernos 
O peão já vai de terno, e usa perfume importado 
Invés de funcho anda mascando chicletes 
Guaiaca virou pochete e o palheiro é o baseado 
Não me acostumo esta moda não me agrada 
Pois só é de madrugada que os bailes estão começando 
Algum magrinhos já usam saias de renda 
Pra não confundir com as prendas, tem que andar apalpando 

A meia noite serviam pra os convidados 
Bolo frito e assado, pão com banha e marmelada 
Nunca faltava um bom café de chaleira 
E quem passava na fogueira, trazia as batata assada 
Logo depois o surungo continuava 
Dali a pouco gritava pare gaiteiro 
E um versinho campeiro, pra prenda ele dizia 

Eu sou do tempo do surungo de respeito 
Me esforço mas não aceito, por isto não me misturo 
Mas tem gaudério achando isto um barato 
Se fazendo de retrato, pra se revelar no escuro 
Só os versinhos de aporfia não mudaram 
Somente modernizaram este linguajar campeiro 
Pois tem boizinho gritando pare a vanera 
Botando a mão nas cadeiras, se declara pro parceiro
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