Meu poncho velho crinudo de tanto andar em tropeada Hoje que não tenho nada parece que tenho tudo Nessa maciez de veludo com baeta colorada Te ganhei num jogo de osso perto de Montevidéo Onde foi pro beleléo um índio do berro grosso E sobraste do retoço como um presente do céu Nesse teu pano há sinuelos de mil rodeios bravios De campos matos e rios entreverados com pêlo E manojos de cabelos de todos os rancherios Dum comércio de carreira me lembro, poncho pachola Veio esse rasgão na gola de uma faca carneadeira Um sotreta calaveira que deixei vivo de esmola Rancho de gola e baeta, poncho pátria castelhano Te estendo de todo o pano como toalha de carpeta Ou cortina de carreta pro chinaredo cigano Às vezes meu poncho pátria até chego a imaginar Que um dia vais me abrigar na quincha da noite preta Quando explodir o planeta num holocausto nuclear