Chegou linda a primavera Cavalhada pelechando Os cordeiros retoçando É tempo de marcação Serviço que é tradição Nestes pagos da fronteira E a nossa gente campeira Firma a têmpera do braço Pealando de todo o laço Sobre a praia da mangueira Os campeiros desencilham Na sombra das caneleiras Os ovelheiros ficam cuidando os arreios Um guaxo pampa quer lamber as barrigueiras Voam mutucas, pateiam pingos atados E um cardeal canta no alto das taquareiras Nuvens de poeira se levantam céu adentro Nascem do centro do chão duro da mangueira Costeiam vacas berrando pelos terneiros E um João barreiro proseia co'a companheira Tinem arames, terneirada mal costeada E a gauchada tira as botas, se arremanga Canha e pitanga são remédios numa guampa Essência pampa, gosto de mato e de sanga Bota-lhe fogo nessas marca Gratulino Porque o Silvino Bololó ta de a cavalo O Mano Vaz estira o laço num moerão E o Borbinha toma um trago no gargalo O seu Pituca espeta a carne pra'o assado O Cipriano peala, capa e assinala Homens maduros sentados sobre os arreios E nesse meio o mate acompanha a fala Dono da casa seu Venâncio arrisca um pealo Bem de a cavalo, o Bololó livra o tirão Gritos de: Aperta, venha a marca, tá pealado Tem ovo assado no brasedo do fogão Lindo pealo, gritam todos Aperta que é do patrão! Don Venâncio simbra o laço Por sobre os calos da mão Pago o pealo- fala um, sovéu armado Bem reboleado, zunindo a armada no ar Deixa que saia olhando pro campo aberto Que o tombo é certo quando o sovéu terminar Vira pr'a fica do lado! Fala um que leva a marca Quebra a cola seu Foro Que o seu Juca corre a tarca! Esse é pra touro, não capa! Ordena, firme, o patrão Capricha no sentá a marca Palmo acima do garrão Que gente buena destes pagos de mi flor No tirador, capincho em couro sovado No lenço atado, bandeira pampa que esvoa Quando encordoa um terneiro pra um bolcado O Luiz Bacia pede cancha, armando o laço E para o braço num tiro, longe, de atrás Pealo de mestre quando a trança se termina E o tombo é sina que a natureza desfaz O Diamantino raça de índio pampeano Um soberano mesmo sem nada na vida Tropeiro andejo, obediente e servidor Do corredor, fez casa, rumo e partida Eu fui guri que aprendeu a cucharrear E derrubar na saída da porteira Fui mandalete de alcançar marca e serrote Carneá um munício e desmancha pras cuzinheira Fui guitarreiro e toquei gaita nos galpões E nos fogões alegrando a gauchada Andei por tudo pealando quando cresci Dês que saí dos pagos da Encruzilhada Me fiz homen nesse tempo De aperta, marca, assinala É por isso que essas coisas Renascem em nossa fala