Uma casa toda branca Debruçada na ladeira Tem de um lado uma figueira E do outro um parreiral Tem na frente um descampado Por onde cruza uma estrada Onde um guri ficou moço Bateu asas e voou Do outro lado da estrada Outra casa toda branca E uma moça na janela Que um lenço branco abanou Olhos grandes e escuros Feito dois figos maduros Que a moça triste a chorar A boca amarga adoçou Quem nasceu para voar nasce com plumas Cria penas, deixa penas e abre as asas Se emborracha com o vento das alturas E perde o rumo do retorno para as casas Ah! Esta saudade é uma sangria E não estanca As lembranças voam sobre as casas brancas Sem se dar conta, que o moço envelheceu Estas aves insaciáveis de caminhos Não se acasalam e não fazem ninhos São aves migratórias como eu