Somos o barco, o mar e os peixes Somos o milho, o trigo e o pão Somos banana, o fumo e a madeira A carne e a soja, café e algodão Somos usina, a garapa e o mel Somos a cana, arroz e feijão Somos adubo, lavoura e o suor A terra e o arado, o braço e a mão É tanta gente sem virtude Tanta virtude sem gente Enquanto a gente sonha Existe muito mais sonho que gente Taparam a boca do mundo Fecharam os olhos do povo Cortaram o desejo do velho Tiraram a vida do novo Somos horário, trabalho e fadiga Somos a fábrica, apito e carvão Somos o ferro, o concreto e a viga A massa e o tijolo, a casa e o chão Somos o livro, a escola e o médico Somos carbono, caneta e papel Somos o sonho, o verbo e o pronome O terno e a valsa, diploma e anel É tanta gente sem virtude Tanta virtude sem gente Enquanto a gente sonha Existe muito mais sonho que gente Taparam a boca do mundo Fecharam os olhos do povo Cortaram o desejo do velho Tiraram a vida do novo Somos o rio, o açude e a represa Somos a boca, a fome e o gemido Somos desejo, salário a mesa O prato e a panela, o fogo e o perigo Somos espera, fé e ansiedade Somos lembrança, saudade e a dor Somos o corpo, o sexo e o amante A cama e o cio, a vida e o amor É tanta gente sem virtude Tanta virtude sem gente Enquanto a gente sonha Existe muito mais sonho que gente Taparam a boca do mundo Fecharam os olhos do povo Cortaram o desejo do velho Tiraram a vida do novo