Pacato cidadão, vindo da Paraíba Ou era Pernambuco, Ceará, não sei Só sei que é lá de riba Dezessete anos Dezessete irmãos Dez 'inda com vida Saiu pelo Brasil, foi para São Paulo Levou quase nada, o que mais pesava Era um montão de calos Pau pra toda obra Vontade de sobra Em busca de um trabalho Ah, minha mãe É mais bonito do que ocê pensa Ah, meu pai Arranjei serviço Aqui num edifício Abraço, tchau e bença Primeiro salário, metade pra família Aí comprou Ray-Ban Calça de Blue Jeans, rádio de pilha Inda sobrou uns troco De muita hora-extra Ai, que maravilha Conheceu uma moça no Ibirapuera Morena bonita, jeito de artista Flor de primavera Ah, então danou-se Ele apaixonou-se Namorou com ela Ah, minha mãe É mais bonito do que ocê pensa Ah, meu pai To apaixonado, to quase casado Abraço, tchau e bença Largou do edifício, foi cavar metrô Tentou outras coisas, fez de tudo um pouco Só não assaltou Diz que aquela moça Casa-se com um moço trabalhador Tiveram dois meninos, Jeferson e Cleiton Gêmeos berram juntos, gêmeos mamam juntos Um em cada peito Tudo engano dela Erro de tabela Agora não tem jeito Ah, minha mãe É mais bonito do que ocê pensa Ah, meu pai Agora eu sou pai Que nem cê é meu pai Abraço, tchau e bença Mas veio o desemprego e com o passar do tempo O sonho que era doce acabou-se A coisa foi ficando séria Ela então danou-se Desapaixonou-se Fugiu da miséria A alma dele, então, virou uma só ferida Pacato cidadão, mais um na multidão Perdido e sem saída Vinte e sete anos Dez de desenganos Nos becos da vida Ah, minha mãe É mais doído do ocê pensa Ah, meu pai Coração ferido, mais que arrependido Que saudade imensa