O negócio ficou fácil, não reclama muito não,
Que o que antes foi difícil, é açúcar com mamão,
Na ordenha é moleza, tirei leite foi na mão,
Era alta madrugada quando eu já despejava o meu leite no latão,

Pra limpar o rego dágua, era feito mutirão,
Hoje a água é encanada corre debaixo do chão,
Minha mão foi calejada, de chegar fazer cascão,
Não se usa mais enxada, com veneno mata praga com a bomba de pressão,

Quando numa capoeira, eu e mais outro peão,
Três serviços pra tirar, não era certeza não,
Vem agora a roçadeira, meio dia limpa o chão,
Tudo é mecanizado, eu usava era machado, minha foice e o enxadão,

Escutava era meu rádio não tinha televisão,
O programa do zebétio era a minha diversão,
Numa tal de internet já se fala no sertão,
Que pode levar recado e que vai mais apressado do que um cavalo bom,

Quando ia pra cidade eu pegava era o bondão,
A estrada esburacada, solavanco de montão,
Sofri feito condenado, pus dinheiro no colchão,
Pra poder comprar um jipe, e as camionetas chiques hoje se vê de montão,

No domingo eu passeava, fazia visitação,
Meus compadres, nos meus pais, na casa do meu irmão,
Agora ninguém se encontra, só quando tem reunião,
De quem que será a culpa, se tudo é mamão com açúcar, e ficou pior então?