Tia Lara, nunca me vou esquecer da tua cara
Quando a morte nos encara, nem a vida nos salva
Pra dizer o que sinto, até faltam palavras
Se não soubesses o que dizer, eu sei que ao menos tentavas
Então eu vou tentar, porque no fundo, no fundo
Nem sei se quero partilhar isso com o mundo
Mas há tantas Laras
No meio do desespero a esperança é tão rara
E essa morte tão cara
Foste ao meu show debilitada, sem avisar ninguém
Mandaste foto da plateia a dizer que tavas bem
Feliz por me ver mesmo sem conseguir andar
Me ver cantar mais uma vez te fez flutuar
Coliseu cheio, nem parecias tão doente
Aos gritos com toda a gente, parecias adolescente
Por teres ido, me senti lisonjeado, honrado
Ao mesmo tempo, preocupado
Voltaste a casa, acabou-se o bom bocado
A Tia Patrícia te ralhou, nem deves ter ligado
Voltaram as dores, com elas a angústia
Pensa no teu casamento e na noite de núpcias
Pensa no Mussulo, água salgada nos pés
E todos os jantares no convés
Lembras, cota? Todos os momentos que passamos juntos
Quem nos dera que fosse apenas um susto
Quem nos dera que fosse apenas um susto
Maldito cancro, pior do que um bruxo
Há situações em que morrer é um luxo
Há situações em que morrer é um luxo

Descansa em paz (tia Lara)
Quando fores, leva a tua paz (e deixa o teu sorriso comigo)
E se fores, descansa em paz (eu sei que já te queres ir embora)
Quando fores, leva a tua paz (então vai com Deus, minha cota)